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O massacre do Realengo.

O massacre do Realengo.

Chega de silêncio. É hora de falar sobre o que aconteceu.

 

Dia 7 de abril de 2011. É. Vai ter gente que vai lembrar pra sempre dessa data. Resumindo a história, que todos já devem saber, um filho da puta de 24 anos, punheteiro internetês e traumatizado por uma família escrota, resolveu se vingar entrando na sua ex-escola e atirando nos escolhidos. O problema maior nisso tudo, parceiro, é que os escolhidos eram crianças; mexer com crianças fode o meio de campo num país solidário que se comove de verdade.

As especulações começaram com várias elaborações teóricas em torno do estímulo discriminativo que pode levar alguém a cometer uma ação como essa, bem como sobre a sanidade do atirador. A carta deixada por ele, no local, alimenta algumas dessas teorias e rechaça outras. Outras informações virão à tona nos próximos dias, após a invasão da sua conta nas redes sociais, seu computador, suas coisas mais pessoais e restrito círculo de amigos (incluindo alguns meros conhecidos).

Muitas dessas teorias são meras especulações sensacionalistas e pretendem apenas segurar a audiência por alguns minutos a mais. Dentre essas, destaco aquelas que buscam um culpado: a assistente social que lhe deu o resultado do exame soropositivo sem prestar a devida assistência, a família que não percebeu seu isolamento, vizinhos e amigos que supostamente sabiam dos planos e não denunciaram, o uso indiscriminado da internet, a ausência de vida social, o porteiro que deixou o cara entrar sem passar por uma revista, a falta de segurança na escola, a demora da polícia em chegar ao local, o traficante que vendeu a arma etc. Talvez não exista um culpado ou todos sejam culpados, pois a extensão dessa lista pode chegar a cada um de nós, como eleitores, cidadãos, consumidores de uma ideologia que alimenta e retroalimenta esses paradigmas comportamentais.

Não quero trabalhar com a análise da culpa, nesse momento, quero apenas pontuar algumas questões morais em torno desse ato:

1) Não se trata de um ato isolado. Uma ação dessas não existe sem que alguns elementos se cruzem, como mostra a análise dos casos anteriores nos países onde ocorreram:

a) fator psiquiátrico (que pode ser tanto um distúrbio quanto um transtorno - o que poderia ter sido percebido e auxiliado se nossa sociedade levasse a saúde mental mais a sério e compreendesse melhor os pedidos de socorro dessas pessoas);

b) fator sócio-cultural (que pode ser tanto uma ideologia religiosa - não raro existem posturas homofóbicas, proselitistas e fundamentalistas por trás - quanto uma atitude de busca da fama, fazer justiça ou provar algo para o grupo a que pertence reforçada pela exposição da ação em mídia nacional e internacional);

c) oportunidades técnicas e operacionais (a facilidade para conseguir armas e munição, treinar/ensaiar o ato, acessar o local da matança, disfarçar intenções e 
executar a ação sem ser prontamente interompido);

d) fator agregador, que funciona como gatilho para que a operação seja realizada em tal dia, hora e lugar (como por exemplo, ter sido demitido ou terminar um namoro naquela semana).

2) Há, sem dúvidas, um reforçamento positivo pela exposição midiática gerando a possibilidade de que imitações surjam em um intervalo muito breve (alguns sites estão apelando para que os internautas enviem vídeos e fotos sobre o massacre). Isso faz com que a possibilidade de um imitador seja real e preocupante. O comportamento de imitação é comum entre jovens e muitos se sentem representados em uma atitude como essa.

3) Não há segurança isolada contra um acontecimento dessa natureza. Aconteceu em uma escola pública apenas pelo fator c, do item 1, e poderá acontecer em qualquer outro lugar, em especial que tenha publicidade.

4) A dignidade das pessoas envolvidas (e enlutadas) não precisa ser menosprezada em detrimento de uma audiência televisiva, pois há muitos fatores complicadores que podem transformar esse processo de luto em algo bastante complicado e dolorido; o que certamente não será respeitado pelos canais de televisão.

5) O pior dos fundamentalismos é o do capitalismo; o fundamentalismo do lucro, que permite que uma cadeia de produção envolvendo o tráfico de drogas e de armas permita que cheguem às mãos de pessoas evidentemente problemáticas soluções mediadas pela violência em preterimento a soluções baseadas em solidariedade e humanismo.

6) Enquanto nossa sociedade não olhar para si mesmo e discutir o que significa a violência que ela mesma pratica contra seus cidadãos, não haverá paz nas escolas, nos bairros, nos hospitais, no trânsito... nos convívios sociais. Enquanto nossa sociedade não quiser corrigir as suas falhas, outros disparos serão dados, outras manchetes aparecerão... não somos lobos do próprio homem porque tenhamos uma natureza lupina; somos o que somos porque a nossa sociedade tem nos feito assim, e nós a ela.

7) Wellington disparou o gatilho, mas quem atirou, de verdade, foram muitas pessoas, direta e indiretamente envolvidas com os reforçadores e facilitadores de ações como essas, contudo, não é de bom tom que todos sejam apontados como culpados... é melhor, como disse acima, deixar a culpa de lado.